Já dizia Bauman que a modernidade está cheia de conexões (ao invés de relações e laços), e estas sofrem de fragilidades: exclusão e edição são coisas extremamente fáceis e praticáveis nos dias atuais - exclui-se o contato que já não lhe serve mais no trabalho, e edita-se a foto antes de publicá-la (porque a imagem tem que ser "leve", "fluida" e condizente com os padrões modernos!).
A liquidez, a leveza, a fluidez... não sustentam a ânsia do ser humano por muito tempo (a insustentável leveza!). Mas vivemos estes três itens dia a dia, cada vez mais, dedicando nossas vidas às frágeis conexões: virtuais, reais, espirituais, ideais... não temos mais a solidez das cartas escritas à mão, do preparo caprichoso e demorado da comida e da mesa, das promessas cumpridas por toda uma vida, da sola do pé sentindo a grama fresca, de esperar dias ou semanas para conseguir ver a foto tirada, das rugas no rosto com o passar do tempo...
Lembrem-se, tudo pode ser excluído e editado! E nos tornamos escravos das "facilidades" da modernidade sem forma - tão líquida que chega a transbordar na falta de sentido! E como é difícil manter-se flutuando nessa liquidez, sendo levado pelas tendências, padrões, moldes, modelos, convenções, etc., etc., etc.
Sim, você pode me dizer que não concorda com este conceito de modernidade, ou que talvez a leveza e fluidez em demasia não sejam assim tão ruins. Pode até mesmo tentar me convencer que este é o tempo que estou vivendo, e que tenho que me adaptar à ele... Mas eu insisto em me agarrar a algum destroço em meio à enxurrada, me beliscar às vezes para me manter acordada, me desacelerar para que a artificialidade não ganhe espaço na minha modernidade, líquida ou não!
E líquida ou não, nossa modernidade escorre entre os dedos... e sangra na alma!
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