Digo isso porque sempre acho que não penso coisas normais, como a grande maioria dos seres. Não que eu não pense nunca sobre coisas normais, mas a maioria não é normal. E eu tenho sérios problemas em conversar sobre coisas normais com pessoas normais – e ainda assim elas costumam gostar de mim. Acho que a maior loucura já começa aí!
Eu não sei conversar sobre novelas, programas de televisão ou “notícias bombásticas de última hora” (leia-se fofocas, sensacionalismo, violência ou desgraça alheia!). Não sei qual é a última cor ou sapato da moda (odeio usar sapatos!). Não sei quem está ficando com quem no meu “círculo social” (como se eu fosse um ser muito sociável!), ou quem está ficando com quem no “mundo das estrelas” (“meu mundo das estrelas” é muito diferente!).
Sou um tanto quanto desligada e não consigo prestar atenção nos carros que passam e nas propagandas dos outdoors, ou observar as roupas e acessórios da cidadã que me parou para pedir informações (quando muito, enxergo as pessoas conhecidas nas ruas).
Meus pensamentos viajam intensamente o tempo todo. Talvez Sandman viva soprando muita areia em meus olhos, e então eu passo os dias e as noites devaneando-e-sonhando-e-pensando infinitas coisas. A minha cabeça é algo parecido com a letra abaixo:
Disneylândia
Filho de imigrantes russos casado na Argentina com uma pintora judia, casou-se pela segunda vez com uma princesa africana no México.
Música hindú contrabandeada por ciganos poloneses faz sucesso no interior da Bolívia.
Zebras africanas e cangurus australianos no zoológico de Londres.
Múmias egípcias e artefatos incas no museu de Nova York.
Lanternas japonesas e chicletes americanos nos bazares coreanos de São Paulo.
Imagens de um vulcão nas Filipinas passam na rede de televisão em Moçambique.
Armênios naturalizados no Chile procuram familiares na Etiópia.
Casas pré-fabricadas canadenses feitas com madeira colombiana.
Multinacionais japonesas instalam empresas em Hong-Kong e produzem com matéria prima brasileira para competir no mercado americano.
Literatura grega adaptada para crianças chinesas da comunidade européia.
Relógios suíços falsificados no Paraguai vendidos por camelôs no bairro mexicano de Los Angeles.
Turista francesa fotografada semi-nua com o namorado árabe na baixada fluminense.
Filmes italianos dublados em inglês com legendas em espanhol nos cinemas da Turquia.
Pilhas americanas alimentam eletrodomésticos ingleses na Nova Guiné.
Gasolina árabe alimenta automóveis americanos na África do Sul.
Pizza italiana alimenta italianos na Itália.
Crianças iraquianas fugidas da guerra não obtém visto no consulado americano do Egito para entrarem na Disneylândia.
-Titãs-
E enlouqueço um pouco por dia...