sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Like Alice – Part XIII


De olhos inchados enxerga-se tão turvo e tão vagarosamente.
Os ombros e a alma pesam por tantos sentimentos.
O coração já não dá conta de bombear tudo.
A flecha e a palavra lançadas não voltam atrás.
O silêncio é o melhor companheiro, e o melhor esconderijo.
Os sonhos se perderam no caminho, e pararam para descansar em uma sombra qualquer.
As fotos e os versos se perderam junto com os sonhos.
As mãos já não sabem mais o que é abrigo, e os pés descalços doem.
O medo toma conta dos sentidos.
A dúvida é tão cruel quanto a lâmina sobre a pele quente.


Alice chegou à encruzilhada, e não sabe pra onde ir...



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quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Like Alice - Part XII


Alice sempre acreditou que eram as coisas mais simples que davam sentido a tudo:

-O sobe e desce da patinha do gatinho em seu colo;
-As cartas e bilhetes escritos à mão;
-A criança que escreve o nome pela primeira vez;
-O sentimento intenso de dois olhares que se encontram (e a bochecha vermelha e arrepio no corpo quando isso acontece!);
-Andar descalça e de cara lavada em qualquer lugar, em qualquer hora;
-A fumaça do café saindo da xícara numa manhã fria;
-O toque suave de duas almas que se encontram num abraço;
-A coleção de livros e cadernos antigos já amarelados na estante;
-Notar um olhar distante e profundo em qualquer estranho na rua, e entender que há uma história fascinante por trás disto;
-Sentar na grama para assistir o por do sol (ou o nascer do sol!);
-Inventar para si mesmo um milhão de histórias e destinos em sua cabeça;
-Olhar o céu a noite e dar nomes às estrelas (e saber que elas sempre estarão lá para te relembrar algo);
-Tentar esconder um sorriso ou desviar um olhar para disfarçar o que está no coração;
-Escolher meticulosamente todas as palavras, e ver que a outra pessoa entendeu todas elas, da forma mais bela possível;
-Escrever em algum lugar o trecho preferido do livro que está lendo;
-Tomar chuva e depois um banho quente;
-Ficar de pijama e meia o dia inteiro no domingo;
-Ser surpreendida com qualquer coisinha boba;
-Soluçar com a cena do filme;
-Ouvir música alta. Não! Ouvir música muito alta!
-Errar completamente a receita e criar um prato novo;
-Caminhar de mãos dadas na praia;
-Ler "O Pequeno Príncipe" pela milésima vez, e de novo, e de novo;
-Tirar tudo do lugar para depois arrumar de novo;
-Ganhar um beijo quente e inesperado numa noite de inverno;
-Fogueira + amigos + violão;
-Rir até chorar;
-Chorar até dormir, e no outro dia acordar com a cara toda inchada;
-Respeitar e cultivar qualquer diferença com naturalidade;
-Imaginar que você tem poderes mágicos;
-Imaginar que você pode salvar o mundo;
-Fazer listinhas... tipo esta...

E assim, continuava tentando dar sentido a tudo...



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segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Like Alice – Part XI

Alice entendia muito pouco sobre tudo, incluindo ela mesma.

Algumas vezes visualizava sua vida como uma imensa Roda de Samsara (misticamente), ou presa ao mito nietzschiano do eterno retorno (filosoficamente). A diferença entre um e outro já não era tão grande assim, e o que notava é que estava fadada a um eterno círculo do qual não conseguia sair.

Em outras vezes enxergava sua vida como a difícil batalha da borboleta para sair do casulo: era tudo tão dolorido e sufocante, mas um dia conseguiria esticar as asas ao sol e secá-las, até conseguir levantar o voo definitivo, mostrando assim sua mais profunda beleza e força.

“Às vezes temos que escolher o incerto, para podermos encontrar o certo... mas para isso, temos que ter o sutil discernimento das estradas mais bonitas e intensas...”.

No caos latente do seu coração, enxergava muito menos do que queria e sentia muito mais do que podia... e por mais que quisesse, ou se esforçasse, a lágrima já não caía... tinha só o silêncio profundo das noites de inverno (ou como disse o velho mago – “o fôlego que se toma antes do mergulho”).

Para fugir de tudo isso, permitia-se estar vulnerável a qualquer palavra bonita, a um suspiro mais logo, a um olhar distante, e a qualquer pensamento bobo que a fizesse sair de si.

Mas ainda assim, entendia muito pouco sobre tudo, incluindo ela mesma e o próprio coração.


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quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Poeira na estante – Parte III

Tempos (Agosto/2001)

O silêncio sufocante do presente
lembra-me o passado vivenciado,
teu espírito blindado,
meu sentimento abalado,
todo amor lançado,
e todo amor renunciado.
Lembra-me dos dias em que
meus pés descalços corriam,
livres para brincar,
para os sonhos de criança sonhar.
Enquanto os pés corriam,
o tempo criava asas...
E voávamos, sonhávamos,
conhecendo os horizontes,
viajando entre os homens.
Procurando respostas,
por entre as encostas.
E neste instante presente,
sinto a vida em minhas mãos!
Tenho que escolher a direção!
E o tempo está ao meu lado
levando-me ao futuro
que não se vê e não se sabe.
Apenas se sente...
E pressente...



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quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Poeira na estante – Parte II

Nublado (27/05/2001)

Sinta o passar das horas:
os olhos que se fecham,
as mãos que escorregam,
sobre a alma tocada.

Veja as letras sobre a cama,
e os talheres sobre a mesa.
Ouça os ruídos lá fora,
e os carros que passam.

Sinta a paz aqui dentro,
e o desejo de viver.
Sinta a espera suave e silenciosa,
capaz de durar uma eternidade.

Nenhum semblante sob as nuvens,
e nenhuma culpa a lamentar.
Não me resta mais nada nesta tarde:
apenas esperar...

sábado, 28 de setembro de 2013

Poeira na estante – Parte I

Crescer (2001)

Mil papéis sobre a mesa,
de todas as formas e todas as cores,
sem nenhuma culpa, nem dores.
Apenas papéis.
Entre eles, um coração,
no qual eu posso me enxergar.
Meu nome está lá,
em meio a tantas confusões e perguntas;
em meio a tantas ilusões e sentimentos.

Sim, um coração!
Que nem é tão velho assim,
que está apenas começando a crescer,
mas que já sabe amar,
e também odiar.
O ódio passa em poucos instantes,
talvez por ser um sentimento inútil e estúpido.
O amor, o tempo também há de apagar,
mas há uma coisa que esqueceram de contar:
o amor não é um sentimento inútil,
tão pouco estúpido!

Dúvidas e contradições,
misturadas com ilusões,
deixam-te sem ar.
Mas depois de parar para pensar,
você retoma seu caminho:
às vezes certo, às vezes errado.

São tantas mudanças...
São tantas cobranças...
E tantas semelhanças!

O sangue que corre em suas veias,
fervilham em revolta e amargura.
E num instante,
transformam-se em risos e sonhos.

Sonhos...
Deixe-me sonhar!
Deixe-me pelo menos acreditar,
que um dia irei te alcançar,
ou que um dia irei te esquecer!

Ouçam nossos gritos e clamores!
Vejam nossas alegrias e horrores!
Sintam nossos medos e amores!
E deixem a paz nos encontrar...

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Descrição

É engraçado e estranho quando alguém expõe o que pensa sobre você... quando evidencia o que acha... quando te descreve de alguma forma!

As opiniões e olhares de cada pessoa serão sempre diferentes, e ao mesmo tempo, sempre com alguma coisa em comum. E por muitas vezes me fazem refletir a ótica de cada um, o que realmente sou, e ainda, o que aparento ser diante de tantas retinas!

Abaixo, uma descrição:

“Mari: Tal qual como os gatos (que nós gostamos tanto!) chegou livre, espaçosa e cheia de opinião. Gostei de você no instante que te vi! O que me lembra você é o trecho de uma música:

‘Ser capitã deste mundo,
poder rodar sem fronteiras.
Viver um ano em segundos,
não achar sonhos besteira.

Me encantar com um livro,
que fale sobre vaidade.
Quando mentir for preciso,
poder falar a verdade’. 

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Like Alice – Part X


“Precisa-se cuidado ao dar passos grandiosos e mudar certas coisas...” – dizia para si mesma enquanto rolava pela cama, e derrubava o cobertor pela terceira vez.

Depois Alice mudou o pensamento para as fantasias que sempre utilizou para fugir da realidade: muitas vezes imaginou-se como guerreira com armadura em campo de batalha. Outras vezes imaginou-se correndo pela floresta, fugindo de sombras que não identificava, esperando chegar a um beijo doce e apaixonante no final do caminho... alguém que a amasse e a protegesse de todo mal. Também viu-se tantas vezes trancada num castelo de pedra, cercada de livros, lendas, histórias, quadros e objetos antigos... naquele lugar, devaneava e escrevia sobre outras histórias e lendas.

Todos estes “personagens” a faziam pensar se ela em si, seu cotidiano, sua vida, seu entorno, não eram parte dos pensamentos, devaneios e imaginação de algum outro Ser. Sendo assim, ela só seria mais um personagem na cabeça de outro alguém, ainda que se beliscasse para verificar se estava acordada (ainda que desde pequena, sempre sentira lá dentro um wake-up call que fazia parte do que chamava de “sentimentos sem nome).

Desta forma, no seu íntimo, às vezes pedia para este Ser que algumas coisas fossem diferentes em sua vida. No entanto, ela sempre tomava cuidado ao dar passos grandiosos e mudar certas coisas...

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Like Alice - Part IX



“You have to make the right choice. As long as you don´t choose, everything remains possible!” – As frases de Nemo Nobody ecoavam na mente de Alice.
Existiam os caminhos já percorridos e os desconhecidos, e chegaria a hora em que não haveria mais a opção da não-escolha.

Os anos de silêncio não aquietaram a brasa no coração. Há coisas que adormecem por um tempo, mas que ressurgem e florescem em formas diferentes, como sementes guardadas no inverno.

Alice sabia que chegava o tempo em que ficaria novamente entre a Cruz e a Espada, entre o Mapa e a Bússola, entre a Sorte e o Acaso: e teria que escolher...

“As escolhas que fazemos não deveriam sentenciar as nossas vidas, ou guiá-las de forma tão severa. Sempre se é possível voltar atrás, ou recomeçar, ou tentar de novo, mas nunca mais será da mesma forma. As escolhas encerram as possibilidades. E isso é tão injusto...!
Quisera eu ter sido esquecida pelos anjos de Oblivion, e vislumbrar todos os caminhos possíveis, todos os amores plausíveis, e todos os finais previsíveis, assim como Nemo. E entender que de qualquer caminho escolhido, apenas um levaria à felicidade plena.” – devaneava Alice.

No entanto, uma frase a confortava: 
“Every path is the right path. Everything could´ve been anything else. And it would have just as much meaning” – e deixou o tempo trabalhando…






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Like Alice - Part VIII


"Existem coisas que não têm nome” – pensava Alice na tarde nublada de quarta-feira. Existiam dores que não sabia descrever e amores que não sabia definir.

O planeta Melancholia estava sempre em rota de colisão com seu coração: hora passava muito perto, levando toda a atmosfera e deixando-a sem ar, hora estava distante, e só se podia ver sua silhueta azulada ao longe no horizonte. 

Porém, sabia que um dia o planeta viria de encontro ao seu coração e tudo terminaria.
Seria isso então o consolo final para a alma? 
Para que então se preocupar com os sentimentos sem nome e com as pessoas às quais eles pertenciam?





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domingo, 4 de agosto de 2013

Like Alice - Part VII


Alice caminhava despretensiosamente, como a flor que acabara de desenrolar a última pétala, mostrando-se pela primeira vez ao mundo: primeiro suspiro de dor!

Na sua doce inocência, acreditava não esperar mais nada das pessoas (assim talvez, tudo doesse menos), mas sabia lá no fundo que se iludia... Hora ou outra toda aquela chama arderia novamente, e abriria as asas que há muito custo e tempo, continha encolhidas.

A cada passo, lembrava-se de pessoas chaves em sua vida, de palavras que mudaram tudo, do cheiro e da energia dos lugares por onde passou, de frases intensas que leu e escreveu, de músicas que podia ouvir dentro do silêncio infinito daquela noite.

De repente sentiu a chuva em seus lábios, misturada às lágrimas salgadas e contidas: é mais fácil chorar quando chove! O ser humano tem maior facilidade de se expressar quando o sentimento é velado e fantasiado por algum outro acontecimento.

Então se confortou e pensou que talvez o tempo resolvesse tudo, e se encarregasse de encaixar as coisas em seus devidos lugares... Ou talvez tivesse que esperar o tempo certo para dizer a palavra certa... Ou quem sabe precisasse correr atrás do tempo perdido... Daí lembrou-se que a flecha do tempo de sua vida não era seqüencial: andava em círculos! E retomou seus passos e compassos...



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quinta-feira, 9 de maio de 2013

Like Alice - Part VI




Alice transitava entre a leveza e o peso.
Nunca antes o título e as páginas de um livro fizeram tanto sentido.
Já não tinha certezas, e seu coração ia da calma ao caos em instantes.
Entendia agora o que era entrar em cena, sem ter ensaiado.
Entendia agora que os amores são como impérios, que sua própria dor não é tão pesada como a dor co-sentida com outro e prolongada em centenas de ecos.
Entendia agora que queria ser desejada como se desejam todas as coisas perdidas para sempre.
Entendia agora que as partituras de sua vida começavam a tomar forma, e já não conseguia trocar os temas com a mesma facilidade de antes.

Já não sustentava sua leveza...


“Quanto mais pesado o fardo, mais próxima da terra está a nossa vida, e mais ela é real e verdadeira. Por outro lado, a ausência total de fardo faz com que o ser humano se torne mais leve do que o ar, com que ele voe, se distancie da terra, do ser terrestre, faz com que ele se torne semi-real, que seus movimentos sejam tão livres quanto insignificantes. Então, o que escolher? O peso ou a leveza?” – Milan Kundera






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quarta-feira, 1 de maio de 2013

Like Alice - Part V

Alice transitava entre a calma e o desespero. Mas vislumbrava de forma clara a ordem dos pensamentos: há muito perdera o calor de viver...

Restariam faíscas, chamas latentes prontas para serem redescobertas?

E quem daria o sopro de liberdade para tudo isto?




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segunda-feira, 8 de abril de 2013


“No mistério intenso de viver, vale apenas o que é verdadeiro!”

E a frase ecoava como música destoante:
Como poderia saber o que realmente era verdadeiro?
Encantava-se com pouco: frases escritas à mão,
fotografias amareladas pelo tempo, e um olhar de cumplicidade em meio ao caos.
Não pedia muito: um beijo doce de boa noite,
um coração aberto, e uma mente inquieta para compartilhar os sonhos.

Às vezes abria os olhos pela manhã, e questionava se o que via era real.
Sonhava muito mais do que vivia...
E dentre os infinitos caminhos a se escolher, percebeu que hoje, estava onde nunca quis estar...
(ritos de passagem necessários)
E mergulhou em busca de ar...



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