terça-feira, 17 de novembro de 2009

É engraçado como, de repente, tudo foge do seu controle! Você acha que havia feito tudo certo, mas o que era tão certo, começa a desmoronar... Por mais que eu tente não sofrer por antecedência, não consigo, não tenho este dom.

O que resta é esperar, ouvir as palavras amigas (“Calmaa... respira fundo...!!!!”), e escrever aqui no blog! Rsrsrs!

Chega logo feriado! =D

sábado, 7 de novembro de 2009

Roda de Samsara - Ainda somos os mesmos!

a
É estranho como tudo na vida parece ser um círculo que se repete várias vezes: os mesmos motivos, as mesmas situações, as mesmas dores, os mesmos fundamentos, as mesmas amarguras, os mesmos caminhos, enfim, os mesmos erros cometidos. Tudo isso me faz questionar qual é o problema comigo, ou onde é a parte que eu sempre erro, para as coisas se complicarem mais tarde e sempre da mesma forma. E no fim das contas, eu sempre acabo fugindo, deixando tudo para trás, colocando uma pedra em cima, para continuar a caminhar e encontrar uma nova oportunidade de tentar, e, quem sabe, não repetir os mesmos erros; e mais ainda, evoluir! Mas no fim das contas, você sempre acaba agindo da mesma forma.

O que noto é que, quanto mais o tempo passa, quanto mais velho você fica, é mais difícil e mais doloroso você admitir que cometeu os mesmos erros; e mais difícil ainda é recomeçar. Quando deveria ser exatamente o contrário!

Hoje, com a desilusão e desesperança entaladas na garganta, olhei para o espelho e me perguntei: o que eu realmente tenho que aprender e fazer, para parar de sofrer assim? No fundo acho que todas as pessoas sabem a resposta... Mas o medo de enfrentar situações novas, suas conseqüências, sair da comodidade da nossa “Roda de Samsara” pessoal para descobrir o que há além do ciclo que você já conhece, nos leva sempre a sermos o que sempre fomos, ainda que os anos passem. Me odeio às vezes por me sentir assim!

E para encerrar e “ilustrar” o post, estrofes de Belchior:

Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo, tudo, tudo
Tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos...

E mais ainda:

Eu sei de tudo na ferida viva
Do meu coração...

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

A minha preferida...

a
Existem músicas que são mais que especiais, e que você tem a certeza de que irão te acompanhar por toda a vida. "Second Love" é uma delas. Principalmente nas noites passadas em claro, e nos dias cinzas...

Second Love

Day after day
Nothing's changed you're far away
But I need you to know that I can't sleep anymore
By the nights
Night after night
The stars are shining so bright
Though our pain is larger than the universe tonight

I want you to know I can't sleep anymore
By the nights
By the nights
Day after day I want you to say
That you're mine
You are mine

Year after year
Tear after tear
I feel like my heart will break in two
You came like a wind I couldn't defend
You cut my heart so deeply
The scars won't mend

I'll never believe in love anymore
After this
After this
Can never change or rearrange
What we lost
What we lost

Time after time
I am wasting my time
Living in a past where I was strong
But now I am gone
I leave no shadow when I'm alone
I'll stay forever in my dreams where you are near

Want you to know I can't sleep anymore
By the nights
By the nights
Day after day I want you to say
That you're mine
You're mine

-Pain Of Salvation-

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Hoje levantei com uma vontade imensa de que fosse um feriado, para que eu pudesse rolar mais um pouco na cama, e tirar mais um cochilo; ficar de pijama durante a manhã toda, e depois tomar um banho demorado. Mas era a “segundona braba” e um grande desânimo veio me visitar. O cansaço sobre os ombros está pesando demais...

Comi muito ontem, e por isso, sentia minha barriga estufada, mas tomaria um café da manhã farto sem maiores problemas (com direito a pão com manteiga, café, chocolate, frutas e cereais), mas me limitei a três torradinhas e meio mamão papaya (é preciso manter a forma!).

Do resto tudo igual: correria para se trocar, conferir se está tudo na bolsa, arrumar o cabelo, escovar os dentes e blá, blá, blá... Tirando o fato de que, mesmo fazendo tudo isso de forma “automática”, não consigo parar de pensar um minuto sequer, sobre tudo que eu faço, sobre todo esse mecanismo que está a nossa volta, tentando achar uma brecha para escapar de toda essa correria e mesmice absurda, ou um lugar onde eu pudesse me abrigar de tudo isso, sem regras, restrições, horários e problemas, somente um silêncio absoluto, muito verde, muita água, muita serenidade (Fugere Urbem!), muito tempo para fazer tudo que se gosta, sem ter que pensar nos problemas de amanhã (Carpe Diem!). Descubro então, que acordei um tanto quanto bucólica hoje, um tanto quanto “árcade”!

Isso veio a se confirmar quando, da janela do ônibus, além do vai-e-vem de carros e de pessoas apressadas, além dos outdoors e muros pintados com propagandas e preços, além do cinza do asfalto e dos prédios, consegui reparar em várias árvores plantadas no concreto das calçadas, com frutas e flores, tentando sobreviver a todo esse caos (assim como eu – Inutilia Truncar!).

Só no trajeto de quinze minutos que eu faço a pé, do ponto que eu desço do ônibus até a porta do meu trabalho, passei por três pitangueiras, (ou “pés de pitanga” como diria a minha vó!), carregadas de frutinhas, muitas delas já no chão, por terem amadurecido demais, sem ninguém notar. Numa das pitangueiras eu parei: por um instante me desliguei do tempo e de toda a correria dos carros e pessoas. Me aproximei da árvore, coloquei no chão a sacola que eu levava nas mãos, e apanhei algumas frutinhas. Assim que as experimentei, notei que, mesmo maduras, não estavam tão doces (da mesma forma que eu!)... Talvez por estarem vivendo num ambiente hostil a elas (da mesma forma que eu!)... Ou talvez por se sentirem sós, sem cuidados, presas ao círculo de concreto, deslocadas do que realmente é essencial (da mesma forma que eu!)...

Com o azedume das frutas ainda na língua, iniciei mais uma semana de trabalho... Abri aspas no cotidiano e escrevi essas linhas... E um pouco de paz veio me visitar!

Ah, e lágrimas também...

Mari
05-10-2009

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

...
"se você não consegue lidar com o meu pior, não merece meu melhor"

marilyn monroe
a

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

"Faz de conta..."

a

"Faz de conta que ela era uma princesa azul pelo crepúsculo que viria, faz de conta que a infância era hoje e prateada de brinquedos, faz de conta que uma veia não se abrira e faz de conta que sangue escarlate não estava em silêncio branco escorrendo e que ela não estivesse pálida de morte, estava pálida de morte mas isso fazia de conta que estava mesmo de verdade, precisava no meio do faz-de-conta falar a verdade de pedra opaca para que contrastasse com o faz-de-conta verde cintilante de olhos que vêem, faz de conta que ela amava e era amada, faz de conta que não precisava morrer de saudade, faz de conta que estava deitada na palma transparente da mão de Deus, faz de conta que vivia e que não estivesse morrendo pois viver afinal não passava de se aproximar cada vez mais da morte, faz de conta que ela não ficava de braços caídos quando os fios de ouro que fiava se embaraçavam e ela não sabia desfazer o fino fio frio, faz de conta que era sábia bastante para desfazer os nós de marinheiros que lhe atavam os pulsos, faz de conta que tinha um cesto de pérolas só para olhar a cor da lua, faz de conta que ela fechasse os olhos e os seres amados surgissem quando abrisse os olhos úmidos da gratidão mais límpida, faz de conta que tudo o que tinha não era de faz-de-conta, faz de conta que se descontraíra o peito e a luz dourada a guiava pela floresta de açudes e tranqüilidade, faz de conta que ela não era lunar, faz de conta que ela não estava chorando..."

- Clarisse Lispector -

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

"Gatos & Poesia - Última parte - A minha preferida..."

aaaa

Ode ao Gato

Os animais foram
imperfeitos,
compridos de rabo, tristes
de cabeça.
Pouco a pouco se foram
compondo,
fazendo-se paisagem,
adquirindo pintas, graça, vôo.
O gato,
só o gato apareceu completo
e orgulhoso:
nasceu completamente terminado,
anda sozinho e sabe o que quer.

O homem quer ser peixe e pássaro,
a serpente quisera ter asas,
o cachorro é um leão desorientado,
o engenheiro quer ser poeta,
a mosca estuda para andorinha,
o poeta trata de imitar a mosca,
mas o gato
quer ser só gato
e todo gato é gato do bigode ao rabo,
do pressentimento à ratazana viva,
da noite até os seus olhos de ouro.

Não há unidade
como ele,
não tem
a lua nem a flor
tal contextura:
é uma coisa
só como o sol ou o topázio,
e a elástica linha em seu contorno
firme e sutil é como
a linha da proa de uma nave.
Os seus olhos amarelos
deixaram uma só
ranhura
para jogar as moedas da noite.

Oh pequeno imperador sem orbe,
conquistador sem pátria,
mínimo tigre de salão, nupcial
sultão do céu
das telhas eróticas,
o vento do amor
na intempérie
reclamas
quando passas
e pousas
quatro pés delicados
no solo,
cheirando,
desconfiando
de todo o terrestre,
porque tudo
é imundo
para o imaculado pé do gato.

Oh fera independente
da casa, arrogante
vestígio da noite,
preguiçoso, ginástico
e alheio,
profundíssimo gato,
polícia secreta
dos quartos,
insígnia
de um
desaparecido veludo,
certamente não há
enigma na tua maneira,
talvez não sejas mistério,
todo o mundo sabe de ti e pertences
ao habitante menos misterioso
talvez todos acreditem,
todos se acreditem donos,
proprietários, tios
de gato, companheiros,
colegas,
discípulos ou amigos do seu gato.

Eu não.
Eu não subscrevo.
Eu não conheço o gato.
Tudo sei, a vida e o seu arquipélago,
o mar e a cidade incalculável,
a botânica
o gineceu com os seus extravios,
o pôr e o menos da matemática,
os funis vulcânicos do mundo,
a casca irreal do crocodilo,
a bondade ignorada do bombeiro,
o atavismo azul do sacerdote,
mas não posso decifrar um gato.
Minha razão resvalou na sua indiferença,
os seus olhos têm números de ouro.

-Pablo Neruda-

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Gatos & Poesia V

Poema para os gatos

Silêncio,
eis a tarefa
de todos os gatos.
Poucos sabem perscrutar
(talvez ninguém em plenitude)
o grau de solidão necessária
ao saber auto suficiente
para ser felino e doméstico
em sua tarefa de monge
guardião do inextricável
em quem o homem não percebe
a metafísica natural,
recolhimento
saber
sensualidade
e aceitação.

-Artur da Távola-

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Gatos & Poesia IV


SONETO DO GATO MORTO

Um gato vivo é qualquer coisa linda
Nada existe com mais serenidade
Mesmo parado ele caminha ainda
As selvas sinuosas da saudade

De ter sido feroz. À sua vinda
Altas correntes de eletricidade
Rompem do ar as lâminas em cinza
Numa silenciosa tempestade.

Por isso ele está sempre a rir de cada
Um de nós, e ao morrer perde o veludo
Fica torpe, ao avesso, opaco, torto

Acaba, é o antigato; porque nada
Nada parece mais com o fim de tudo
Que um gato morto.


-Vinicius de Morais-

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Gatos & Poesia III


Fragmento do Ensaio:
"LOUVOR E SIMPLIFICAÇÃO DE ÁLVARO DE CAMPOS"


"Paro um pouco a enrolar o meu cigarro (chove)
e vejo um gato branco à janela de um prédio bastante alto…
Penso que a questão é esta: a gente - certa gente – sai para a rua,
cansa-se, morre todas as manhãs sem proveito nem glória
e há gatos brancos à janela de prédios bastante altos!
Contudo e já agora penso
que os gatos são os únicos burgueses
com quem ainda é possível pactuar -
vêem com tal desprêso esta sociedade capitalista!
Servem-se dela, mas do alto, desdenhando-a…
Não, a probabilidade do dinheiro ainda não estragou inteiramente o gato
mas de gato para cima – nem pensar nisso é bom!
Propalam não sei que náusea, retira-se-me o estômago só de olhar para eles!
São criaturas, é verdade, calcule-se,
gente sensível e às vezes boa
mas tão recomplicada, tão bielo cosida, tão ininteligível
que já conseguem chorar, com certa sinceridade,
lágrimas cem por cento hipócritas."


-Mário Cesariny-

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Gatos & Poesia II


Reis Magos

Uma mesa de plástico, branca
junto da tarde que morre
e renasce por pequenas paixões
de repente estávamos sozinhos
as ilhas muito inacessíveis
agora que escureceu
o menor desejo teria um sentido delicado
os olhos velozes de um gato
viam coisas belas
lado a lado com os homens
pareciam quase não ter sofrido

a mesa estava encostada às janelas do café
e nós de forma desolada
ignorados, aturdidos, de passagem
não muito mais

procuro desse fato uma versão
que me não conduza à inconfidência

era uma mesa lisa, branca
uma razão soletrava ao acaso
a medida soberana do incerto

olhos velozes de um gato
os teus olhos

-José Tolentino Mendonça-

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Gatos & Poesia


Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.

Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.

És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.

-Fernando Pessoa-

sábado, 11 de julho de 2009

Foda-se!


O direito ao Foda-se

Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo fazendo sua língua.

"Pra caralho", por exemplo. Qual expressão traduz melhor a idéia de muita quantidade do que "Pra caralho"? "Pra caralho" tende ao infinito, é quase uma expressão matemática. A Via-Láctea tem estrelas pra caralho, o Sol é quente pra caralho, o universo é antigo pra caralho, eu gosto de cerveja pra caralho, entende?

No gênero do "Pra caralho", mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso "Nem fodendo!". O "Não, não e não''! E tampouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade ''Não, absolutamente não!'' o substituem. O "Nem fodendo" é irretorquível, e liquida o assunto. Te libera, com a consciência tranqüila, para outras atividades de maior interesse em sua vida. Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro pra ir surfar no litoral? Não perca tempo nem paciência. Solte logo um definitivo "Marquinhos, presta atenção, filho querido, NEM FODENDO!". O impertinente se manca na hora e vai pro Shopping se encontrar com a turma numa boa e você fecha os olhos e volta a curtir o CD do Lupicínio.

Por sua vez, o "porra nenhuma!" atendeu tão plenamente as situações onde nosso ego exigia não só a definição de uma negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional. Como comentar a gravata daquele chefe idiota senão com um "é PhD porra nenhuma!", ou "ele redigiu aquele relatório sozinho porra nenhuma!". O "porra nenhuma", como vocês podem ver, nos provê sensações de incrível bem estar interior. É como se estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha. São dessa mesma gênese os clássicos "aspone", "chepone", "repone" e, mais recentemente, o "prepone" - presidente de porra nenhuma.

Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um "Puta-que-pariu!", ou seu correlato "Puta-que-o-pariu!", falados assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba... Diante de uma notícia irritante qualquer um "puta-que-o-pariu!" dito assim te coloca outra vez em seu eixo. Seus neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizar e sacar a atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou o safar de maiores dores de cabeça.

E o que dizer de nosso famoso "vai tomar no cu!"? E sua maravilhosa e reforçadora derivação "vai tomar no olho do seu cu!". Você já imaginou o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta: "Chega! Vai tomar no olho do seu cu!". Pronto, você retomou as rédeas de sua vida, sua auto-estima. Desabotoa a camisa e saia à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios.

E seria tremendamente injusto não registrar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: "Fodeu!". E sua derivação mais avassaladora ainda: "Fodeu de vez!". Você conhece definição mais exata, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão, inclusive, que uma vez proferida insere seu autor em todo um providencial contexto interior de alerta e autodefesa. Algo assim como quando você está dirigindo bêbado, sem documentos do carro e sem carteira de habilitação e ouve uma sirene de polícia atrás de você mandando você parar: O que você fala? "Fodeu de vez!".

Sem contar que o nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de "foda-se!" que ela fala. Existe algo mais libertário do que o conceito do ''foda-se!"? O "foda-se!" aumenta minha auto-estima, me torna uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas. Me liberta.". Não quer sair comigo? Então foda-se!". "Vai querer decidir essa merda sozinho(a) mesmo? Então foda-se!".

O direito ao ''foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição Federal. Liberdade, igualdade, fraternidade e FODA-SE.


- Millôr Fernandes -

quarta-feira, 24 de junho de 2009


Eu escrevi um poema triste
E belo, apenas da sua tristeza.
Não vem de ti essa tristeza
Mas das mudanças do Tempo,
Que ora nos traz esperanças
Ora nos dá incerteza...
Nem importa, ao velho Tempo,
Que sejas fiel ou infiel...
Eu fico, junto à correnteza,
Olhando as horas tão breves...

-Mário Quintana-

sábado, 20 de junho de 2009

Poesia para a última tarde de outono...


Como explicar o vazio?
Uma imensidão de nada
Ou o todo sem sentido?
Sabe-se tão pouco sobre tudo...

Passar pela descoberta sombria
De que tudo o que há para se fazer
Há de se fazer só

Olhar teus lábios entreabertos
Sentir através dos teus olhos
Uma necessidade intensa
De se ter o outro ser
De se abraçar um imenso abraço
De desarrumar o cabelo,
De tanto acarinhar...

Há de se lutar pelo amor:
Imperfeito e humano amor!
Até quando?

Mari – 08/02/2009

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Post para uma segunda-feira de manhã chuvosa, precedendo um feriado na sexta...


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segunda-feira, 30 de março de 2009

E o vento levou...


E o Vento Levou...

Um minuto pra pensar
Que a vida leva e tráz
O que eu faço ela desfaz
Pensamentos são como ladrões
Me roubando tempo
Levam minha paz

Pois todo mundo está só
Pra saber o que é bom
O ruim e o tanto faz
Às vezes não quero escolher
E as pessoas vão dizer
Que eu vivo de ilusão

Vou desaparecendo
Mas estou sempre lá
Sei que por um momento
Fujo sem sair do lugar

Um segundo pra esquecer
Tudo que me apraz
E não tenho mais
Pensamentos são como ladrões
Me roubando tempo
Levam minha paz

Pois todo mundo está só
Pra saber o que é bom
O ruim e o tanto faz
Às vezes não quero escolher
E as pessoas vão dizer
Que eu vivo de ilusão


-Pato Fu-

quarta-feira, 25 de março de 2009

O Livro dos Dias


O Livro dos Dias
Ausente o encanto antes cultivado
Percebo o mecanismo indiferente
Que teima em resgatar sem confiança
A essência do delito então sagrado
Meu coração não quer deixar
Meu corpo descansar
E teu desejo inverso é velho amigo
Já que o tenho sempre a meu lado
Hoje então aceitas pelo nome
O que perfeito entregas mas é tarde
Só daria certo aos dois que tentam
Se ainda embriagado pela fome
Exatos teu perdão e tua idade
O indulto a ti tomasse como bênção
Não esconda tristeza de mim
Todos se afastam quando o mundo está errado
Quando o que temos é um catálogo de erros
Quando precisamos de carinho
Força e cuidado
Este é o livro das flores
Este é o livro do destino
Este é o livro de nossos dias
Este é o dia de nossos amores

-Renato Russo-

quinta-feira, 19 de março de 2009

Poema sem A


Poema sem “A”

Senti como poucos
O mundo dos doces sonhos,
E os espectros medonhos
Que existem em mil superstições...
Chorei por muitos verões,
Repisei mundos guerreiros,
Revisitei meus velhos museus,
Que, por conter projetos idos,
Vertem gritos de dor
De tempos doloridos...
Deixei que meus sonhos se desfizessem,
Como se pudesse o sol existir
Em flores que em luz fenecem...
Errei por muitos penedos,
Gritei por sobre os montes
Todos os meus medos,
E selei os meus segredos
No fundo do sofrido peito...
Enfim, hoje sei
Que no fim desse tormento
No sopro do vento,
Terei,
Meu momento de sorrir,
Meu momento de sentir,
E refletir,
E rever
Esse meu modo de viver...

-Autor desconhecido-

Poema sem E


Poema sem “E”

Quando amar
Não for mais a minha vida,
Quando o sonhar
Não mais for
A razão última
Da minha caminhada,
Vou buscar
Outros sorrisos,
Noutras plagas...
No caminho da brisa,
No calor noturno,
No raiar do sol,
Nas ondas do mar...
Quando, saudosa
A aflição já não mais habitar
Minha alma,
Quando a calma
Do luar da madrugada
Já não mais
Falar ao coração,
Vou buscar outros risos
Nos paraísos
Ainda por sonhar,
Nos haustos carinhosos
Ainda por aspirar,
No país do amor
Ainda por visitar...


-Autor desconhecido-

Poema sem I


Poema sem “I”

Em tudo e por tudo
Sou como o vento que sopra,
Como a água que brota
Clara, na natureza,
Sou como a leveza
Da pluma,
Flutuando ao sabor da aragem,
Sou a um só tempo,
A saudade e a chegada,
O choro e a recompensa,
A falta e a presença,
O descanso e a jornada.
Sou como a folha dançando
Nos ventos das tempestades,
Sou o regato que murmura,
E em suave correr, jura
As juras de eterno amor...
Sou o afeto e o calor,
Sou o perfume da mata,
O espelho de uma fonte,
Sou o verdejante monte
De onde vertem essas águas...
Sou o lamento de mágoas,
O bradar de uma saudade,
Sou também o alvorecer
De uma nova alvorada,
Sou a esperança velada
Desse novo renascer,
À espera do momento
De reencontrar você...


-Autor desconhecido -

Poema sem O


Poema sem “O”

Vinha eu,
Em alegrias pela vida,
A caminhar,
Entre alegres gargalhadas
E a cantar,
Até que, numa curva qualquer
De minha estrada
Lá estavas tu,
Linda,
A me esperar...
Mas,
Vi lágrimas brilharem,
Vi esperanças tristes,
Vi um caminhar errante,
E vi uma luz esfuziante
Que teu caminhar,
Deixava para trás...
E vi também a calma
Que nessa luz recendia...
E assim caminhavas,
Flutuavas,
Qual frágil avezinha,
E te ver assim,
Deu- me a certeza
De que eu seria teu,
E tu serias minha...
E desde aquele dia
Em nenhum instante,
Deixei nunca de te venerar...
Desde aquele dia
Mergulhei na mágica sublime de te amar...


-Autor desconhecido-

Poema sem U


Poema sem “U”

Olhar a noite encantado,
E contar estrelas,
E sorrir ao vê- las
Sorrindo pra mim,
É te ver assim,
Entre elas,
Sempre a protegê-las,
Eis como são minhas noites,
Noites sem fim...
Sorrir para o infinito
E conter o grito
De alegria...
Ver nascer o dia
Ensolarado e meigo...
Sorrir para a brisa
E sonhar
Mil sonhos acalentados,
Tão esperados,
Tão acorrentados,
Tão enamorados,
Tão febris e ternos...
Ir aos infernos
Apagar as chamas
Desse desespero,
Desse exagero
De amor extremo!
Sentir- te o coração
Sem poder tocá-lo,
Nessa agonia
Desse amor- paixão!

-Autor desconhecido-

terça-feira, 10 de março de 2009

A cura


A Cura


Existirá
Em todo porto tremulará
A velha bandeira da vida

Acenderá
Todo farol iluminará
Uma ponta de esperança

E se virá
Será quando menos se esperar
Da onde ninguém imagina

Demolirá
Toda certeza vã
Não sobrará
Pedra sobre pedra

Enquanto isso
Não nos custa insistir
Na questão do desejo
Não deixar se extinguir

Desafiando de vez a noção
Na qual se crê
Que o inferno é aqui

Existirá
E toda raça então experimentará
Para todo mal
A cura

Existirá
Em todo porto se estiará
A velha bandeira da vida

Acenderá
Todo farol iluminará
Uma ponta de esperança

E se virá
Será quando menos se esperar
Da onde ninguém imagina

Demolirá
Toda certeza vã
Não sobrará
Pedra sobre pedra

Enquanto isso
Não nos custa insistir
Na questão do desejo
Não deixar se extinguir

Desafiando de vez a noção
Na qual se crê
Que o inferno é aqui

Existirá
E toda raça então experimentará
Para todo mal
A cura


-Lulu Santos-

quinta-feira, 5 de março de 2009

...


"Se tudo existe é porque sou. Mas por que esse mal estar? É porque não estou vivendo do único modo que existe para cada um de se viver e nem sei qual é. Desconfortável. Não me sinto bem. Não sei o que é que há. Mas alguma coisa está errada e dá mal estar. No entanto estou sendo franca e meu jogo é limpo. Abro o jogo. Só não conto os fatos de minha vida: sou secreta por natureza. O que há então? Só sei que não quero a impostura. Recuso-me. Eu me aprofundei mas não acredito em mim porque meu pensamento é inventado."


-Clarice Lispector-

domingo, 1 de março de 2009

"The Call"


.:*The Call*:.

It started out as a feeling,
(Começou com um sentimento)
which then grew into a hope,
(que então cresceu e se tornou uma esperança)
which then turned into a quiet thought,
(que se tornou então um pensamento silencioso)
which then turned into a quiet word,
(que se tornou então uma palavra silenciosa)
and then that word grew louder and louder
(e então essa palavra cresceu mais e mais ruidosamente)
'til it was a battle cry:
(até se tornar um grito de guerra)

I'll come back when you call me,
(Eu voltarei quando você me chamar)
no need to say goodbye.
(não há porque se despedir)

Just because everything's changing
(Só porque tudo está mudando)
doesn't mean it's never been this way before.
(não significa que nunca foi assim antes)
All you can do is try to know who your friends are
(Tudo que você pode fazer é tentar saber quem seus amigos são)
as you head off to the war.
(enquanto marcha para a guerra)
Pick a star on the dark horizon
(Escolha uma estrela no horizonte escuro)
and follow the light.
(e siga a luz)

You'll come back when it's over,
(Você voltará quando acabar)
no need to say goodbye.
(não há porque se despedir)

Now we're back to the beginning
(Agora nós voltamos ao começo)
It's just a feeling and no one knows yet,
(é simplesmente um sentimento que ninguém conhece ainda)
but just because they can't feel it too
(mas apenas por eles não conseguirem sentí-lo também)
doesn't mean that you have to forget.
(não significa que você tem que esquecer)
Let your memories grow stronger and stronger
(Deixe suas memórias crescerem mais e mais fortes)
'til they're before your eyes.
(até que estejam diante de seus olhos)

You'll come back when they call you,
(Você voltará quando te chamarem)
no need to say goodbye.
(não há porque se despedir)


-Regina Spektor-

domingo, 8 de fevereiro de 2009

"Antes que seja tarde..."


Antes que seja tarde

olha, não sou daqui
me diga onde estou
não há tempo não há nada
que me faça ser quem sou
mas sem parar pra pensar
sigo estradas,sigo pistas pra me achar

nunca sei o que se passa
com as manias do lugar
porque sempre parto antes que comece a gostar
de ser igual, qualquer um
me sentir mais uma peça no final
cometendo um erro bobo, decimal

na verdade continuo sob a mesma condição
distraindo a verdade, enganando o coração

pelas minhas trilhas você perde a direção
não há placa nem pessoas informando aonde vão
penso outra vez estou sem meus amigos
e retomo a porta aberta dos perigos

na verdade continuo sob a mesma condição
distraindo a verdade, enganando o coração

na verdade continuo sob a mesma condição
distraindo a verdade, enganando o coração

-Pato Fú-

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Poema**


Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.

Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.

E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.

Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.

Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.

Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.

Desejo que você descubra,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.

Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.

Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga "Isso é meu",
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.

Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.

Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar ".


-Victor Hugo-

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Queria meu quarto agora... ^^


“Como gostava de seu quarto; sentia seu cheiro de túnel quando se aproximava e estava bem, bem dentro dele enquanto entrava. Notava que antes de sair esquecera de abrir as janelas e um cheiro dela própria exalava-se de cada canto – como se voltando da rua se encontrasse em casa esperando. Abria as janelas e um ar frio de céu e de água fresca rangia límpido pelas coisas renovando-as. Hesitava um pouco tentando ligar-se às suas coisas, ver um sinal nos objetos, mas sentia logo de início que seria inútil, que ela estava liberta e de contornos calmos. Debruçava-se um instante à janela, o rosto oferecido à noite com ânsia e delícia, os olhos entrecerrados: o mundo noturno, frio, perfumado e tranqüilo era feito de suas sensações fracas e desorganizadas.”


- Clarice Lispector -

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Poesia*


O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...


-Fernando Pessoa-

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Ele voltoooooou! =D

"Como não ter Deus?! Com Deus existindo, tudo dá esperança: sempre um milagre é possí­vel, o mundo se resolve. Mas, se não tem Deus, há-de a gente perdidos no vai-vem, e a vida é burra. É o aberto perigo das grandes e pequenas horas, não se podendo facilitar, é todos contra os acasos. Tendo Deus, é menos grave se descuidar um pouquinho, pois no fim dá certo." -Guimarães Rosa-

Este post é especialmente para o meu Kikinho que voltou, bem no dia do meu aniversário! Não poderia haver presente melhor!
Essas coisas acontecem para renovar nossas forças, trazer esperança, e nos fazer entender que "quando tudo está perdido, sempre existe uma luz" e que a vida sempre encontra um meio, por mais inexplicável que possa parecer!

Beijo no coração de todos que torceram para que ele voltasse! =]

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Conversa de dois bebês modernos!


- E aí, véio?

- Beleza, cara?

- Ah, mais ou menos. Ando meio chateado com algumas coisas.

- Quer conversar sobre isso?

- É a minha mãe. Sei lá, ela anda falando umas coisas estranhas, me botando um terror, sabe?

- Como assim?

- Por exemplo: há alguns dias, antes de dormir, ela veio com um papo doido aí. Mandou eu dormir logo senão uma tal de Cuca ia vir me pegar. Mas eu nem sei quem é essa Cuca, pô. O que eu fiz pra essa mina querer me pegar? Você me conhece desde que eu nasci, já me viu mexer com alguém?

- Nunca.

- Pois é. Mas o pior veio depois. O papo doido continuou. Minha mãe disse que quando a tal da Cuca viesse, eu ia estar sozinho, porque meu pai tinha ido pra roça e minha mãe passear. Mas tipo, o que meu pai foi fazer na roça? E mais: como minha mãe foi passear se eu tava vendo ela ali na minha frente? Será que eu sou adotado, cara?

- Sabe a sua vizinha ali da casa amarela? Minha mãe diz que ela tem uma hortinha no fundo do quintal. Planta vários legumes. Será que sua mãe não quis dizer que seu pai deu um pulo por lá?

- Hmmmm. pode ser. Mas o que será que ele foi fazer lá? VIXE! Será que meu pai tem um caso com a vizinha?

- Como assim, véio?

- Pô, ela deixou bem claro que a minha mãe tinha ido passear. Então ela não é minha mãe. Se meu pai foi na casa da vizinha, vai ver eles dois tão de caso. Ele passou lá, pegou ela e os dois foram passear. É isso, cara. Eu sou filho da vizinha. Só pode!

- Calma, maninho. Você tá nervoso e não pode tirar conclusões precipitadas.

- Sei lá. Por um lado pode até ser melhor assim, viu? Fiquei sabendo de umas coisas estranhas sobre a minha mãe.

- Tipo o quê?

- Ela me contou um dia desses que pegou um pau e atirou em um gato. Assim, do nada. Que maldade, meu! Vê se isso é coisa que se faça com o bichano!

- Caramba! Mas por que ela fez isso?

- Pra matar o gato. Pura maldade mesmo. Mas parece que o gato não morreu.

- Ainda bem. Pô, sua mãe é perturbada, cara.

- E sabe a Francisca ali da esquina?

- A Dona Chica? Sei sim.

- Parece que ela tava junto na hora e não fez nada. Só ficou lá, paradona, admirada vendo o gato berrar de dor.

- Putz grila. Esses adultos às vezes fazem cada coisa que não dá pra entender.

- Pois é. Vai ver é até melhor ela não ser minha mãe, né? Ela me contou isso de boa, cantando, sabe? Como se estivesse feliz por ter feito essa selvageria. Um absurdo. E eu percebo também que ela não gosta muito de mim. Esses dias ela ficou tentando me assustar, fazendo um monte de careta. Eu não achei legal, né. Aí ela começou a falar que ia chamar um boi com cara preta pra me levar embora.

- Nossa, véio. Com certeza ela não é sua mãe. Nunca que uma mãe ia fazer isso com o filho.

- Mas é ruim saber que o casamento deles é essa zona, né? Que meu pai sai com a vizinha e tal. Apesar que eu acho que ele também leva uns chifres, sabe? Um dia ela me contou que lá no bosque do final da rua mora um cara, que eu imagino que deva ser muito bonitão, porque ela chama ele de 'Anjo'. E ela disse que o tal do Anjo roubou o coração dela. Ela até falou um dia que se fosse a dona da rua, mandava colocar ladrilho em tudo, só pra ele pode passar desfilando e tal.

- Nossa, que casamento bagunçado esse. Era melhor separar logo.

- É. Só sei que tô cansado desses papos doidos dela, sabe? Às vezes ela fala algumas coisas sem sentido nenhum. Ontem mesmo veio me falar que a vizinha cria perereca em gaiola, cara. Vê se pode? Só tem louco nessa rua.

- Ixi, cara. Mas a vizinha não é sua mãe?

- Putz, é mesmo! Tô ferrado de qualquer jeito.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Em homenagem ao meu Kikinho...


Lamento do oficial por seu cavalo morto

Nós merecemos a morte,
porque somos humanos
e a guerra é feita pelas nossas mãos,
pelo nossa cabeça embrulhada em séculos de sombra,
por nosso sangue estranho e instável, pelas ordens
que trazemos por dentro, e ficam sem explicação.

Criamos o fogo, a velocidade, a nova alquimia,
os cálculos do gesto,
embora sabendo que somos irmãos.
Temos até os átomos por cúmplices, e que pecados
de ciência, pelo mar, pelas nuvens, nos astros!
Que delírio sem Deus, nossa imaginação!

E aqui morreste! Oh, tua morte é a minha, que, enganada,
recebes. Não te queixas. Não pensas. Não sabes. Indigno,
ver parar, pelo meu, teu inofensivo coração.
Animal encantado - melhor que nós todos!
- que tinhas tu com este mundo
dos homens?

Aprendias a vida, plácida e pura, e entrelaçada
em carne e sonho, que os teus olhos decifravam...

Rei das planícies verdes, com rios trêmulos de relinchos...

Como vieste morrer por um que mata seus irmãos!


-Cecília Meireles-

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Pensar...


Reflexão Sobre a Reflexão
Terrível é o pensar.
Eu penso tanto
E me canso tanto com meu pensamento
Que às vezes penso em não pensar jamais.
Mas isto requer ser bem pensado
Pois se penso demais
Acabo despensando tudo que pensava antes
E se não penso
Fico pensando nisso o tempo todo.

-Millör Fernandes-

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009


"O homem é o único animal que cospe na água onde bebe;
que mata para não comer;
que corta a árvore que lhe dá sombra e frutos;
por isso, está se condenando a morte...".


(Palavras do Velho do Rio)