segunda-feira, 19 de novembro de 2012

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Tinha todos os sonhos desenhados numa tela previamente colorida.
Tinha a mente dividida entre o real e a ilusão.
Tinha ainda na memória aquela música. E na gaveta empoeirada, os poemas escritos à mão.

*“A million little pieces to start”
*“A million little pieces stolen from you”
*“This simple answer is never what it seems”

E os milhões de pedacinhos daquele cenário, floresceram.

 

*30 Seconds To Mars Song - "Search and Destroy"

domingo, 17 de junho de 2012

Diariamente II



Despertador, trabalho, telefone,
E-mail, pessoas, mudança.

Bye-bye, farewell, so long...

Namorada, filha, irmã,
Estudante, executiva, amiga.

Bye-bye, farewell, so long...

Explicações, telefone, paciência,
Pessoas, trabalho, hora extra.

Bye-bye, farewell, so long...

Provas, testes, paciência,
Espera, ansiedade, surpresa.

Bye-bye, farewell, so long...

Presente, jantar, sono,
Cansaço, cansaço, cansaço.

Bye-bye, farewell, so long...

Diariamente


Para calar a boca: rícino
Pra lavar a roupa: omo
Para viagem longa: jato
Para difíceis contas: calculadora

Para o pneu na lona: jacaré
Para a pantalona: nesga
Para pular a onda: litoral
Para lápis ter ponta: apontador

Para o Pará e o Amazonas: látex
Para parar na Pamplona: Assis
Para trazer à tona: homem-rã
Para a melhor azeitona: Ibéria

Para o presente da noiva: marzipã
Para Adidas: o Conga nacional
Para o outono, a folha: exclusão
Para embaixo da sombra: guarda-sol

Para todas as coisas: dicionário
Para que fiquem prontas: paciência
Para dormir a fronha: madrigal
Para brincar na gangorra: dois

Para fazer uma touca: bobs
Para beber uma coca: drops
Para ferver uma sopa: graus
Para a luz lá na roça: duzentos e vinte volts

Para vigias em ronda: café
Para limpar a lousa: apagador
Para o beijo da moça: paladar
Para uma voz muito rouca: hortelã

Para a cor roxa: ataúde
Para a galocha: Verlon
Para ser "mother": melancia
Para abrir a rosa: temporada

Para aumentar a vitrola: sábado
Para a cama de mola: hóspede
Para trancar bem a porta: cadeado
Para que serve a calota: Volkswagen

Para quem não acorda: balde
Para a letra torta: pauta
Para parecer mais nova: Avon
Para os dias de prova: amnésia

Para estourar pipoca: barulho
Para quem se afoga: isopor
Para levar na escola: condução
Para os dias de folga: namorado

Para o automóvel que capota: guincho
Para fechar uma aposta: paraninfo
Para quem se comporta: brinde
Para a mulher que aborta: repouso

Para saber a resposta: vide-o-verso
Para escolher a compota: Jundiaí
Para a menina que engorda: hipofagin
Para a comida das orcas: krill

Para o telefone que toca
Para a água lá na poça
Para a mesa que vai ser posta
Para você, o que você gosta:

Diariamente.


-Marisa Monte-

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Like Alice – Part IV

Já dizia Clarice que as pessoas, por não andarem distraídas, queriam ser o que já eram, queriam ter o que já tinham, queriam matar a sede da boca seca de admiração. E foi numa destas distrações que Alice o viu pela primeira vez. Almoçava tranqüila em meio ao verde das árvores, no restaurante em que o assoalho antigo de madeira fazia um barulho lindo quando encostava os saltos dos sapatos. Por muitas vezes Alice imaginara que havia apenas ela andando por cima daquelas madeiras barulhentas. E foi em um destes devaneios que Alice encontrou os olhos negros e sérios pela primeira vez: eles a fitavam com imensa curiosidade, surpresa e atenção, como uma criança que desperta para um acontecimento novo do mundo. E Alice sentiu uma brasa no coração, como a mesma criança que desperta para um acontecimento novo do mundo.

Passado o episódio (e a sobremesa!), Alice voltou para o trabalho, sem questionar ou pensar demais no acontecido. Ocorreu então, para sua surpresa, que antes de dormir ela relembrou o encontro de olhares, e reviveu a brasa quente no coração.

Semanas depois, numa tarde preguiçosa de outono, Alice resolve dar um tempo no trabalho, e descer ao Café para tomar alguma coisa quente, destas que não aquecem a alma, mas driblam a agonia do corpo. E então ela o revê, sentando em uma mesa com algumas pessoas, totalmente alheio ao assunto, num olhar longínquo prestando atenção a qualquer bobagem que passava na TV naquele instante. Ele não a viu, estava com o pensamento distante demais para isso, mas Alice o reconheceu, e sentiu aquele quentinho novamente lá dentro, como se algo a dissesse que realmente as coisas não acontecem por acaso.

Alice tinha muitas dúvidas a respeito do acaso: não acreditou nele por diversas vezes, e em outras, o crucificou na maré da realidade, das ações e do cotidiano. Mas como dizia Pessoa: “Que grande vantagem trazer a alma virada do avesso!”. E Alice começava a se sentir mais do avesso do que nunca...

domingo, 27 de maio de 2012

Like Alice – Part III


Quando era adolescente,
Alice pensava que poderia viver de
Vinho & Música,
Versos & Violão,
Outonos & Devaneios,
Saudade & Solidão.

Hoje não tem nada mais,
Além dos pés no chão.

E a cabeça nas nuvens...

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Like Alice - Part II

Virava-se de um lado para o outro, procurando o sono tranqüilo que há tantas noites não encontrava. Sentia o vazio pesado de alguém que está na encruzilhada das escolhas sem fim, que fazemos no decorrer da vida.

Ainda que fosse menos constante, devido à correria dos dias e ao rápido passar do tempo, Alice ainda sonhava com um beijo em Edimburgo, com uma pequena fonte no jardim, com um coração sincero, com alguém que realmente se importasse, e que dissesse “sim” sem ao menos ouvir as perguntas.

Estava cansada de ter que sorrir para aqueles que só tinham interesses dúbios e corações perversos: não queria mais estar com aqueles de quem não gostava, mas que a conveniência exigia. Por muitas vezes achou que o fazia por amor, por doação, e por muitas vezes, foi assim que aconteceu.

Mas chegara o tempo em que Alice aprendera, que quando se doa e se sacrifica demais, esquece-se de si mesma, e a identidade se esvai, e o beijo em Edimburgo fica para amanhã... Ou para depois de amanhã... Até virar poeira nas estantes da memória.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Like Alice


Alice gosta de conchas
de gatos cinzas e azulados
do som leve da chuva no telhado
dos endereços ainda não visitados

gosta das cartas ainda não escritas
dos sonhos que renascem do pó
e de toda forma de amor irrestrita

gosta dos beijos de algodão doce
e do doce deleite de devanear

Alice gosta de colecionar estrelas:
uma para cada céu, e uma para cada mar
transbordante em sua vida

gosta de temperos novos e de versos antigos
(diversos amigos)
no outono gosta das cores em tom terra
e da brisa calma na primavera

Alice gosta de pés descalços e almas abertas


 
Mari – 30/01/12